O mercado de trabalho na área da tecnologia ainda é marcado por desafios com o acesso limitado, barreiras culturais e a falta de representatividade negra na tecnologia em posição estratégicas. Contudo, pessoas negras ainda enfrentam desafios como a falta de oportunidades e racismo algorítmico, que reforça a discriminação e limita o acesso a cargos estratégicos.

Neste artigo, vamos explorar esses desafios e as iniciativas que estão promovendo uma transformação necessária no setor.

O ambiente de tecnologia da informação aqui no Brasil reflete as disparidades sociais, onde a população negra enfrenta dificuldades para ingressar na área e se desenvolver. As mulheres negras, por exemplo, são minoria entre os profissionais de TI, onde enfrentam tanto a desigualdade racial quanto a de gênero. Segundo o balanço realizado em 2022 pelo PretaLab, as mulheres negras representam 28% da sociedade brasileira, onde 11% trabalham em empresas de tecnologia e apenas 3% estão matriculadas em cursos de pós-graduação.

Esse desequilíbrio limita as perspectivas de inovação e acaba entrando em conflito com um dos fundamentos da tecnologia: a inovação. No setor onde a diversidade é uma alavanca para novas ideias e soluções, a ausência de profissionais negros implica menos empatia e compreensão sobre os problemas enfrentados por essa população no uso de novas tecnologias.

Um dos aspectos críticos na falta de diversidade na área da tecnologia é o racismo algorítmico, que é a reprodução de preconceitos racistas por meio do desenvolvimento algoritmo, devido à ausência de diferentes pontos de vista no desenvolvimento das plataformas e tecnologias.

Um exemplo prático disso, com apenas uma olhada rápida pelas redes sociais pode-se observar que influenciadores negros com mais de 1 milhão de seguidores no Brasil são bem difíceis de serem encontrados, ao passo que influenciadores brancos chegam a ter a marca 10 a 30 milhões, o que traz um cenário muito claro do racismo algorítmico nas redes sociais, principalmente com influenciadores digitais, que usam essas plataformas para gerar conteúdo e renda.  

É importante destacar que, segundo o último censo realizado em 2022 pelo IBGE, 56% da população brasileira se identificou como negra. Com base nesse dado, surge o questionamento: por que as pessoas negras não apresentam o mesmo nível de engajamento nas redes sociais em comparação às pessoas brancas?

Algoritmos podem, inadvertidamente, refletir ou até intensificar preconceitos presentes nos dados com que foram treinados, o que pode levar a decisões injustas e discriminatórias. Por isso, é essencial que o desenvolvimento de  tecnologias e sistemas de IA incluam práticas responsáveis e revisão contínua para garantir que esses sistemas sejam mais justos e éticos.

Apesar da alta demanda de profissionais existe um gap racial, principalmente nos cargos de gerência. A Brasscon estima que as empresas precisam de 797 mil talentos entre 2021 e 2025, mas o número de formados não acompanha essa demanda, o que pode resultar em um déficit anual de 106 mil profissionais.

Além disso, empresas que promovem a diversidade tendem a se destacar no mercado. Segundo a Harvard Business Review, 45% das pessoas em diversas empresas notaram aumento de participação de mercado de pessoas negras na TI, e 70% disseram que essas empresas conquistaram novos mercados.

No Brasil, menos de 5% dos executivos nas 500 maiores empresas são negros. Além disso, o preconceito ainda é uma realidade nas empresas: a pesquisa Potências Negras TEC 2022 com 1.427 pessoas negras e pardas mostrou que 83% já sofreram discriminação no ambiente de trabalho.

Há também barreiras estruturais, como estereótipos e preconceitos inconscientes, que dificultam a ascensão de profissionais negros a cargos de liderança e novas oportunidades nas empresas, especialmente no setor de tecnologia.

Diversas iniciativas têm surgido para aumentar a representatividade negra no setor de tecnologia. A PretaLab, por exemplo, atua na formação e inserção de mulheres negras no mercado, oferecendo capacitação, redes de apoio e parcerias com empresas que valorizam a diversidade.

O Movimento Black Money também é uma iniciativa importante, incentivando a presença de pessoas negras na tecnologia e promovendo o empreendedorismo e o consumo consciente na comunidade negra. Essas ações têm sido essenciais para abrir portas e dar suporte a talentos negros que enfrentam barreiras no mercado de trabalho.

Para transformar o setor de tecnologia em um ambiente verdadeiramente inclusivo, é necessário promover políticas que incentivem a capacitação e contratação de profissionais negros, apoiar programas de mentoria e garantir que esses profissionais possam ocupar cargos de liderança e desenvolvimento. A Diversidade é um elemento estratégico para inovação e uma maior presença de profissionais negros é um passo essencial para que a tecnologia atenda melhor às necessidades de toda a população brasileira.

Empresas e organizações que apostam na diversidade tendem a apresentar um impacto social positivo e a criar soluções que representam uma gama mais ampla de experiências. Incentivar esses talentos é investir em uma tecnologia que valoriza e representa todas as pessoas.

A representatividade negra na tecnologia é fundamental para combater desigualdades e promover uma inovação mais inclusiva. Problemas como o racismo algorítmico e as barreiras de acesso podem ser reduzidos com equipes de desenvolvimento mais diversas. O Brasil tem o potencial de ser referência em uma tecnologia mais justa, mas isso exige uma transformação estrutural e constante.

Fontes: 

Pessoas negras na tecnologia: desafios e oportunidades

Racismo tecnológico: a discriminação hi-tech e ampliada

Racismo algorítmico e representatividade negra na TI 

Onde estão os executivos pretos do mundo tech?