Em um bate papo com a Victória Cristine Corotto, uma mulher trans que faz parte da equipe estruturante do EducaTRANSforma, conversamos sobre como funciona o projeto e a organização.
O projeto tem como objetivo capacitar pessoas trans oferecendo formações gratuitas dentro do segmento da tecnologia e inovação, que tem sido uma área que cresce exponencialmente, e atualmente, as organizações buscam por diversidades em seus quadros colaborativos.
Mas como nasceu o projeto?
Na história, Noah, fundador e CEO, se descobriu uma pessoa trans, e durante a transição ele percebeu que o ambiente de trabalho não era um lugar seguro para ele e para essas pessoas. Isso acarretou muitos problemas pessoais e psicológicos e durante essa jornada difícil, ele se prometeu ajudar a outras pessoas para que não passassem por essas mesmas situações. Nesse período, ele encontrou uma grande amizade que decidiu abraçar essa causa junto com ele, a Shai, co-fundadora e COO, e assim, em 2019, nasceu o EducaTRANSforma.
O projeto foi concebido em um formato e estrutura presencial em Porto Alegre para capacitar uma turma de 9 pessoas, mas devido a chegada da pandemia, o projeto foi reestruturado e passou a acontecer de forma on-line.
Inicialmente, foram disponibilizadas 15 vagas online, e devido ao número enorme de inscrições, foi para 30 e, por fim, 52 pessoas na primeira turma. Assim foi crescendo sucessivamente nas turmas seguintes e a nova meta para 2021 é terminar o ano com 400 pessoas formadas.
Devido ao crescimento do interesse no projeto, passando de 15 pessoas interessadas na formação para mais de 300 pessoas atualmente, foi necessário montar a organização EducaTRANSforma com a finalidade de oferecer consultorias e treinamentos para empresas para arrecadação de fundos para retroalimentar o projeto juntamente com as outras empresas parceiras.
Qual a maior dificuldade da comunidade ter acesso às oportunidades de estudos e trabalho?
A maioria das pessoas trans são expulsas de casas na fase da adolescência e. por causa disso, deixam os estudos e não encontram oportunidades de empregos devido ao preconceito. Diante desse cenário muitas acabam indo para prostituição.
A expectativa de vida em média de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, enquanto a da população em geral é de 75 anos (Dados da União Nacional LGBT) e o Brasil é considerado o país que mais mata pessoas trans no mundo.
Atualmente, vemos algumas empresas com ações de empregabilidade para pessoas trans. Qual a ação necessária para que isso seja algo recorrente e não pontual?
O que garante manter uma pessoa trans efetivamente no mercado são as oportunidades que as empresas concedem e acreditam no potencial profissional dessas pessoas. É mais do que conceder uma oportunidade de trabalho é acreditar no desenvolvimento da pessoa como profissional e oferecer apoio.
Uma pequena parcela das pessoas trans possuem acesso ao ensino médio e superior e são poucas empresas que oferecem um suporte de desenvolvimento de uma trilha de conhecimento e capacitação. Atualmente, além de abrir oportunidades, é preciso ter uma trilha de conhecimento focado na necessidade de cada pessoa.
Uma nova ação, para uma necessidade…
Muitas pessoas trans nos procuram por capacitação, mas não possuem o ensino médio completo, e isso impede de realizar a formação técnica, pois é necessário, no mínimo, possuir o ensino médio completo.
Pensando nessas pessoas, o EducaTRANSforma está se movimentando e idealizando para atenderem também essas pessoas e as auxiliarem nesse processo. E assim que se tornarem aptas com a conclusão Ensino Médio poderão dar continuidade na capacitação e serem encaminhadas para o mercado de trabalho.
Quais as ações necessárias para uma empresa ter uma cultura que integra a diversidade e inclusão de pessoas trans que possam se sentirem acolhidas?
O EducaTRANSforma oferece serviços de consultoria em diversidade e inclusão com objetivo das empresas se tornarem lugares mais inclusivos em questões relacionadas ao tema e implementarem políticas organizacionais.
Atualmente, um dos pontos negativos das empresas, é se apoiarem em comitê de diversidade, pois a partir do momento que é gerado valor para a empresa os colaboradores do comitê podem se sentir sobrecarregados das funções. Assim, é necessário ter um profissional capacitado voltado para pensar na cultura da diversidade. Por isso, é importante contratar uma pessoa ou uma consultoria especializada no assunto, pois se faz necessário ter uma política de inclusão dentro das empresas e ouvir as vozes dos colaboradores que já fazem parte do seu quadro colaborativo, como exemplo, mulheres, negros e LGBTQIA’+
No mês de Junho, foram vistas muitas ações por parte das empresas abordando pautas sobre a visibilidade da comunidade LBTQIA+, para quem trabalha com os meios digitais o que se faz necessário para que a comunicação seja mais assertiva tanto para a população em geral quanto para a comunidade?
O lado negativo que é perceptível nas comunicações das empresas é que elas trazem diversos debates de assuntos em geral, mas não concedem o lugar de fala para quem realmente convive e possui experiência de vida para abordar o assunto.
Portanto, se faz necessário, buscar fontes e pessoas que convivam dentro da comunidade e que se identifiquem com o assunto e se sintam à vontade para falar. E indo além, é preciso ter um código de conduta e uma comunicação interna efetiva dentro das empresas com ações contínuas através de rodas de conversas, palestras, disponibilização de materiais educativos e entre outros.
A comunicação eficaz dentro das empresas para abordar sobre determinado assunto não deve acontecer somente nas mídias sociais, é preciso, primeiramente, acontecer internamente integrando todos os colaboradores.
Qual o conselho que você deixaria para as pessoas trans que estão buscando uma oportunidade de emprego ou querem ter novas expectativas de vida?
Por mais que os meios de acesso à educação em nosso país não favoreçam a comunidade trans, o único caminho que pode transformar as vidas é a educação.
Procure pesquisar por empresas que oferecem trilha de desenvolvimento através de uma imersão de capacitação em que no final dessa trilha a pessoa tem a oportunidade de ser contratada.
Por isso, em nosso projeto trabalhamos com capacitação profissional, pois somente dessa forma conseguimos incluir a nossa comunidade dentro do mercado de trabalho e oferecer um suporte para o seu desenvolvimento.
O que é necessário para se candidatar a uma formação do projeto EducaTRANSforma?
A forma de inscrição é sempre divulgada em nossas redes sociais, atualmente as inscrições são feitas pelo site da 99jobs ou formulário do google. Para acompanhar as aberturas das inscrições é preciso ficar atento às mídias sociais do projeto, pois os processos sempre são divulgados em seus canais.
Com quem conversamos?
Victória Cristine Corotto
Mulher Trans, CHRO (Chief Human Resources Officer) no EducaTRANSforma, Desenvolvedora Front-end, estudante de Administração e Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Iniciou sua jornada na área da tecnologia, sendo uma das primeiras pessoas alunas do projeto, tendo como sua trilha de conhecimento voltada para Desenvolvimento Front-end.
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Conheça o projeto através do site.
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